Dados do Trabalho

Título

PAPEL DA EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA NA INVESTIGAÇÃO DE TAQUIARRITMIA VENTRICULAR

Introdução

A epidemiologia é a ciência responsável por analisar o processo saúde-doença na lógica da distribuição e dos determinantes das enfermidades. Nesse sentido, a investigação etiológica das taquiarritmias deve se desdobrar conforme o raciocínio epidemiológico das principais doenças que podem cursar com disfunções eletrofisiológicas. Como exemplo, tem-se a Doença de Chagas (DC) que contempla o rol de patologias que devem ser investigadas quando há epidemiologia positiva. Este relato busca apresentar um caso de taquiarritmia em paciente com epidemiologia desfavorável para DC, mas que apresentou sorologias reagentes que foram descartadas após investigação minuciosa.

Descrição do Caso

J. R. P., 56 anos, natural de Tibau/RN, nega contato com o vetor da DC. Comparece ao ambulatório de Doença de Chagas para investigação de suspeita de DC aguda após sorologias reagentes - IgM reagente em titulação superior a 1/40 por Imunofluorescência Indireta (IFI) e IgG não reagente pelo mesmo método. A suspeita de DC iniciou-se em virtude de uma investigação etiológica de arritmia que acompanha o paciente há cinco anos. Nega sintomatologias e sinais típicos de fase aguda da doença. Refere ter residido em casa de taipa durante parte da infância e consumo de caldo de cana com frequência, porém último consumo há cerca de 4 meses. Ao exame físico, há presença de extrassístoles à ausculta cardíaca. Demais sem alterações. O Eletrocardiograma (ECG) mostrava apenas Sobrecarga de Ventrículo Esquerdo e Extrassístoles Ventriculares monomórficas isoladas. Procedeu-se com novas sorologias (IgM - IFI e IgG - ELISA e IFI) e esfregaço de sangue periférico, ambos negativos. Realizou-se ecocardiograma transtorácico que mostrou ausência de cardiopatia estrutural e função sistólica normal e, Holter 24h que mostrou elevada densidade de arritmias ventriculares (17%), 9.402 isoladas das quais 713 com 197 episódios de bigeminismo, 1.828 episódios em pares e 140 TVNS. Paciente se encontra medicado com succinato de metoprolol 100 mg/dia e ainda segue em investigação para estratificação de risco cardiomiopatia por dessincronia ventricular e risco potencial de morte súbita.

Conclusões

O caso demonstra a importância do raciocínio clínico e epidemiológico na investigação das taquiarritmias, pois a epidemiologia negativa e a apresentação clínica incompatível com o diagnóstico de DC foram subsídios que foram determinantes para refutar a hipótese de DC aguda e desconfiar de exame falso positivo.

Palavras Chave

Doença de Chagas; Taquiarritmia; Epidemiologia;