Dados do Trabalho
Título
ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS DA DOENÇA DE CHAGAS NO ESTÁGIO C EM UM REGISTRO HOSPITALAR
Introdução
Apesar das ações tomadas para o controle da doença de Chagas (DC) no Brasil, seu índice de morbimortalidade permanece alto. Com a evolução para cardiomiopatia crônica da doença de Chagas (CCDC), exames subsidiários são necessários. O eletrocardiograma tem grande valor no manejo da DC, já que a doença acomete os nós sinusal, atrioventricular e sistema His-Purkinje. O presente estudo busca relatar as principais alterações eletrocardiográficas em pacientes portadores de DC no estágio C a partir de um registro hospitalar.
Métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo e transversal, com informações coletadas de eletrocardiogramas de pacientes com DC estágio C, conforme a classificação da Latin American Guidelines for the diagnosis and treatment of chagas heart disease, no período de 2016 a 2022 em um banco de dados de um centro de referência em Pernambuco. As alterações registradas foram: bloqueio divisional anterosuperior esquerdo (BDASE), bloqueio de ramo esquerdo (BRE), bloqueio de ramo direito (BRD), fibrilação atrial e uso de dispositivos como marcapasso e cardiodesfibrilador Implantável.
Resultados
Foram analisados 284 pacientes portadores de DC, dos quais 75 (26,4%) pacientes foram incluídos por apresentarem o estágio C da doença, nascidos entre 1932 e 1976 e procedentes de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Ceará. Todos os pacientes incluídos apresentavam o vetor como provável forma de transmissão pela epidemiologia. Na amostra, 39 (52%) eram do sexo masculino; 64 (85,3%) apresentaram ao menos uma das alterações de interesse do estudo. No que tange aos bloqueios de condução, 33 (51,6%), tinham BRD, 27 (42,2%), BDASE, e 4 (6,25%), BRE. Em 18 (28,1%) pacientes, houve BDASE associado a BRD. Em apenas 1 (1,6%) paciente, encontrou-se BDASE associado a BRE. A fibrilação atrial foi identificada em 8 (1,25%) participantes. Na amostra, 19 (29,2%) pessoas possuíam algum tipo de dispositivo cardíaco, dos quais 17 (89,5%) eram marcapassos e 2 (10,5%) eram cardiodesfibriladores implantáveis.
Discussão/Conclusão
Os bloqueios de nós sinuasal e sinoatrial são muito descritos na literatura e, embora não tenhamos tido acesso a sua prevalência na amostra, pode-se inferir que pacientes com marcapasso tenham distúrbios nessas vias. O BRD acomete de 10% a 50% dos pacientes com CCDC, sendo o distúrbio mais prevalente. A associação entre o BRD e o BDASE é a mais descrita. O BRE é raramente descrito em pacientes soropositivos, possuindo prognóstico ruim quando comparado a outros bloqueios. Estudos estimam em 2% a prevalência de BRE em indivíduos soropositivos, e números maiores, como o da amostra, são documentados em certos locais por variantes específicas do agente etiológico. Encontra-se fibrilação atrial em até 5% dos eletrocardiogramas dessa população, apesar de menos prevalente na amostra. Este estudo soma-se à literatura que evidencia a prevalência de alterações eletrocardiográficas em pacientes com CCDC, destacando a importância do eletrocardiograma para diagnóstico e prognóstico.
Palavras Chave
Chagas; Eletrocardiograma; Alterações; Prognóstico
Área
Cardiologia clínica
Instituições
Casa do Portador de Doença de Chagas e Insuficiência Cardíaca - Pernambuco - Brasil, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco - Pernambuco - Brasil, Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco - Pernambuco - Brasil
Autores
Davi Mendes Luna, Maria Luiza Vasconcelos Montenegro, Renan Camilo Braga, Ludmila Cristina Camilo Furtado, Juan Rodrigues Barros, Maria das Neves Dantas Silveira Barros, Thaís Oliveira Claizoni Santos