32º Congresso Pernambucano de Cardiologia

Dados do Trabalho


Título

Cardiomiopatia tóxica induzida por tratamento de neoplasia de mama Her2+: um relato de caso

Introdução

Cardiotoxicidade refere-se a alterações na função sistólica do ventrículo esquerdo (VE), especialmente na sua fração de ejeção (FE). O tratamento antineoplásico, apesar de ter evoluído na promoção de um melhor prognóstico e sobrevida dos pacientes, mostra-se um potencial causador de cardiomiopatia (CMP) tóxica. Nessa perspectiva, este relato objetiva apresentar o caso de uma paciente que desenvolveu CMP tóxica após tratamento de neoplasia de mama Her2+.

Descrição do caso

Mulher, 49 anos, ex-tabagista (interrompeu o hábito há 1 ano, após 2 de uso com carga tabágica de 1 cigarro/dia), hipertensa e asmática, foi admitida em maio de 2023 com queixa de desconforto na mama esquerda desde o final de 2022 e evolução com úlcera purulenta. Ao iniciar a investigação em 2023 com exames de imagem e análises laboratoriais, chegou-se ao diagnóstico de carcinoma sugestivo de Doença de Paget da mama. O tratamento inicial incluiu 3 ciclos de AdriblastinaⓇ (Doxorrubicina) 60mg/m2 e Ciclofosfamida 600mg/m2 a cada 14 dias, enquanto aguardava-se a análise imunohistoquímica. Com o resultado HER2+, foi adotado tratamento direcionado de 6 ciclos, a cada 21 dias, com TaxotereⓇ (Docetaxel, 50 mg) + HerceptinⓇ (Trastuzumabe, 960mg dose de ataque e 720mg manutenção) + PerjetaⓇ (Pertuzumabe, 840mg dose de ataque e 420mg manutenção). Após o último ciclo, em novembro de 2023, a paciente apresentou dispneia progressiva e foi internada por infecção respiratória. Diante desse quadro, foi solicitado um ecocardiograma. O exame revelou câmaras esquerdas levemente aumentadas, hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo, déficit contrátil difuso e função sistólica global deprimida, com fração de ejeção <50%, indicando CMP tóxica com insuficiência cardíaca descompensada por infecção respiratória. Em janeiro de 2024, um ecocardiograma registrou FE=50%, dimensões normais e função sistólica de VE limítrofe, permitindo o retorno do uso de Trastuzumabe e Pertuzumabe. Em abril de 2024, a FE da paciente caiu para 41% durante tratamento oncológico, com uso de losartana, bisoprolol, espironolactona, dapagliflozina e furosemida.

Discussão/Conclusão

As antraciclinas, como a doxorrubicina, causam cardiotoxicidade ao se ligarem irreversivelmente a enzimas envolvidas na duplicação celular dos miócitos, levando à apoptose celular. Fatores como risco cardiovascular e uso concomitante de drogas, como ciclofosfamida, aumentam essa toxicidade. A terapia anti-HER2+, especialmente o trastuzumabe, causa disfunção ventricular com queda da FE devido ao comprometimento dos mecanismos de reparo cardíaco. No entanto, se houver recuperação da FE, é indicado retornar o tratamento anti-HER com manutenção das medicações cardioprotetoras. Neste caso, a CMP tóxica foi uma complicação do tratamento para neoplasia de mama, mesmo com o avanço das terapias. Portanto, é necessário avaliar regularmente a função cardíaca de pacientes em uso de drogas cardiotóxicas a fim de buscar melhor prognóstico possível.

Palavras Chave

Neoplasias de mama; Antineoplásicos; Cardiotoxicidade; Insuficiência Cardíaca

Área

Insuficiência Cardíaca

Instituições

Centro de Oncologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (CEON/HUOC/UPE) - Pernambuco - Brasil, Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) - Pernambuco - Brasil, Universidade de Pernambuco - Pernambuco - Brasil

Autores

Abla Vitórya Nejaim Tenório Xavier, Manuela Souto Garcia Lavalle , José Gilmar Costa Santos, Antônio Carlos Melo Tompson, Sabrina Priscila Souza Xavier