Dados do Trabalho
Título
REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR DE ANGINA REFRATÁRIA ACIMA DO LIMIAR DE ISQUEMIA: UM RELATO DE CASO
Introdução
Tradicionalmente, existe a recomendação de que os exercícios físicos em pacientes com doença arterial coronariana (DAC) sejam realizados abaixo do limiar isquêmico clínico e eletrocardiográfico. Porém, evidências sugerem a possibilidade da aplicação de treinamentos intervalados acima do limiar de isquemia com segurança e eficiência para melhora do condicionamento físico, função endotelial e função ventricular esquerda. Nos casos de angina refratária, a reabilitação cardiovascular já é considerada terapêutica factível e segura.
Descrição do caso
G.T.P, sexo masculino, 73 anos, com DAC crônica e angina refratária, definido por persistência de angina aos esforços mesmo em terapêutica medicamentosa otimizada há mais de 3 meses e sem indicação para revascularização, foi encaminhado à reabilitação cardiovascular. Foi submetido a estratificação de risco e programação das zonas de treinamento após teste de esforço cardiopulmonar (TECP), sendo classificado como risco intermediário a alto conforme a Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular (2020). No TECP apresentou: limiar ventilatório 1 (LV1) aos 02m34s do exercício com FC75bpm, 3.5Km/h de velocidade e 2,0% de inclinação, com VO2 de 9,53ml/Kg/min, equivalente 58,3% do VO2max. O limiar ventilatório 2 (LV2) foi alcançado aos 07m55s com FC 92bpm, 5,7Km/h de velocidade e 2,0% de inclinação, com VO2 de 13,76ml/Kg/min. O consumo máximo de oxigênio alcançado ao final do esforço foi de 16,35ml/kg.min, atingindo 74,2% do previsto (Valor esperado>85%), correspondendo a Classe Funcional II-NYHA e CCSI. O ECG revelou infradesnivelamento horizontal do segmento ST de cerca de 2mm a partir do 8°min de esforço com FC>95 bpm e após LV2. Iniciado o programa de reabilitação cardiovascular supervisionado e com monitorização por ECG digital. Realizadas 3 sessões semanais de 50-60min com exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular, com boa adesão e sem intercorrências. Treinamento aeróbico acima do limiar isquêmico com angina e alteração do segmento ST controlados, durante estímulo de mais alta intensidade, sem arritmias ou alterações hemodinâmicas. Após 14 sessões (1/3 do programa), realizamos novo TECP que mostrou melhora do VO2max em 6% (evoluiu de 74,2% para 80,2% do previsto), melhora do VO2 no LV1 com maior carga de esforço com atraso do limiar isquêmico (no exame anterior com cerca de 84% do VO2max e no atual após 90% do VO2max). Em relação ao ECG, houve discreta alteração do segmento ST com infradesnivelamento horizontal de cerca de 1mm compatível com a queixa de desconforto, porém somente próximo ao pico do esforço mostrando atraso das alterações em relação ao exame anterior.
Discussão/Conclusão
Esse caso demonstra que os benefícios do treinamento acima do limiar isquêmico são relevantes, mesmo antes da finalização do programa de reabilitação, e que essa abordagem é capaz de mudar o prognóstico de pacientes. Portanto, esse tipo de treinamento, quando realizado em ambiente adequado e supervisionado, é uma estratégia a ser considerada.
Palavras Chave
Reabilitação Cardiovascular; Angina Refratária; Limiar Isquêmico
Área
Ergometria / Ergoespirometria / Reabilitação Cardíaca / Cardiologia Desportiva
Instituições
Clínica Medical Sports - Pernambuco - Brasil, Faculdade Pernambucana de Saúde - Pernambuco - Brasil
Autores
Laís Figueirôa Valente, Valéria Rabelo Lafayette, Rodrigo Dos Santos Alves