Dados do Trabalho

Título

Síndrome da Implantação do Marcapasso: uma apresentação atípica de derrame pleural recorrente.

Introdução

A síndrome do marcapasso é definida como uma gama de sintomas oriundos do dissincronismo atrioventricular (AV) ou interventricular, após a implantação do marca-passo (MP). Neste caso, é possível acompanhar a sintomatologia clássica causada por uma sístole atrial contra a valva AV fechada, ou devido à contração atrial próxima à contração ventricular em outros casos, gerando uma onda de pulso retrógrada na circulação cardiopulmonar, perca da contribuição atrial no débito cardíaco e manutenção da arritmia. Consequentemente, os sintomas incluem: hipotensão, síncope, dispneia, ortopneia, fadiga, edema e congestão pulmonar.

Descrição do caso

Paciente sexo feminino, 76 anos, hipertensa, portadora de Cardiopatia Chagásica, Doença arterial coronariana crônica com indicação de revascularização cirúrgica do Miocárdio (CRM). Em abril de 2015, necessitou de internamento de emergência devido a Bloqueio Átrio Ventricular total (BAVT) sendo submetida a CRM e implante de MP definitivo bicameral. No pós-operatório imediato apresentou acidente vascular isquêmico, porém recebeu alta hospitalar em boas condições clinicas. Um mês após o procedimento apresentou derrame pleural (DP) à esquerda, dispneia, ortopneia e necessidade de toracocentese de alívio. Nos 6 meses seguintes evoluiu DP recorrentes (1 vez por mês). Em dezembro de 2015 o ecocardiograma transtorácico evidenciou dissincronismo, disfunção diastólica tipo III e elevação pressão de enchimento do VE, sendo encaminhada ao serviço de arritmologia para avaliação terapia de ressincronização cardíaca (Marcapasso multissítio).

Discussão/Conclusão

Trata-se de uma paciente com cardiomiopatia chagásica apresentando quadro de insuficiência cardíaca refratária ao tratamento clínico um mês após CRM e implantação de marcapasso. O arritmologista identificou dissincronismo átrio ventricular como mecanismo da insuficiência cardíaca, devido a falha de comando do eletrodo atrial, ocasionando estimulação apenas ventricular e despolarização retrograda dos átrios, corroborando com a literatura, dado que estimulação unicameral ventricular está mais associada a síndrome do MP. A reprogramação do MP ocorreu em abril de 2016 e a paciente evoluiu com melhora progressiva dos sintomas respiratórios e do DP, sem novas intervenções. Após 9 anos de seguimento, encontra-se assintomática e sem DP. O caso retrata um diagnóstico complexo que é a síndrome do marcapasso e a hipótese que deve ser aventada em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis que manifestem clínica de insuficiência cardíaca pós procedimento.

Palavras Chave

Síndrome do Marcapasso; Dispositivos Cardíacos Implantáveis; Derrame Pleural; Insuficiência Cardíaca