32º Congresso Pernambucano de Cardiologia

Dados do Trabalho


Título

Nefropatia Osmótica Induzida por iSGLT2 em Paciente Portador de Insuficiência Cardíaca: Relato de Caso

Introdução

Os Inibidores do Cotransportador de Sódio-Glicose-2 (iSGLT2), pilares na terapia para Insuficiência Cardíaca (IC) de Fração de Ejeção Reduzida, inibem a reabsorção da glicose no túbulo contorcido proximal, resultando em glicosúria, com benefício comprovado na redução de eventos na IC. Apesar do perfil de segurança renal, há relatos da ocorrência de nefrose osmótica induzida por essas drogas, caracterizada por lesão renal aguda (LRA) consequente à osmolarização do meio tubular.

Descrição do caso

Homem, 65 anos, portador de IC de fração de ejeção melhorada, Diabetes e Fibrilação Atrial, em uso de Varfarina, admitido por IC perfil B descompensada por infecção de partes moles e anemia secundária a perdas gastrointestinais. Os exames mostraram Hb 5,3 g/dL; Ur 93 mg/dL; Cr 1,6 mg/dL; K 4,9 mmol/L; INR 4,6. Após tratar as causas descompensadoras, foi otimizada a terapêutica para IC, com adição de Dapagliflozina 10 mg/dia. Entretanto, 48 horas após o início da droga, houve piora significativa da função renal (Ur 184 mg/dL; Cr 4,4 mg/dL), além de acidose metabólica com Ânion Gap elevado, sem cetonúria, e hipercalemia (K 6,9 mmol/L). Dada a LRA e queda importante do clearance de creatinina, impossibilitando a continuidade do iSGLT2, fez -se necessária sua retirada, com recuperação progressiva das escórias nitrogenadas desde então. Estabilizados os níveis da creatinina em torno 1,8 mg/dL e superadas a acidose e hipercalemia, o paciente recebeu alta em boas condições clínicas.

Discussão/Conclusão

Esse relato de paciente com LRA após uso de iSGLT2 consiste em raríssima apresentação relacionada a tal medicação. Estudos recentes têm associado esses fármacos a um tipo de insulto renal denominado Nefropatia Osmótica Induzida por Drogas, condição na qual osmóticos ativos (drogas ou metabólitos) se depositam no interior das células epiteliais dos túbulos proximais, ocasionando disfunção tubular manifestada por LRA. No caso relatado, após investigação, chegou-se à hipótese de nefropatia osmótica induzida por iSGLT2, visto que houve correlação causal e temporal entre a prescrição do fármaco e a instalação da LRA, na ausência de outras causas justificáveis. Além disso, o restabelecimento da função renal após a suspensão da droga reforçou ainda mais a hipótese. Ressalta-se, ainda, que na presença de LRA inexplicável, em vigência do uso de iSGLT2, é recomendada a realização de biópsia renal, cujo achado típico de vacuolização das células tubulares ratifica o diagnóstico de nefropatia osmótica. Porém, no caso descrito, a confirmação histopatológica não foi possível, visto que a anticoagulação incrementaria o risco hemorrágico do procedimento. Diante disso, é importante atentar-se para a possibilidade de desenvolvimento da nefropatia osmótica com o início do iSGLT2 no tratamento da IC, sendo imprescindível monitorar a função renal. Nesse cenário, mais estudos são necessários para compreender melhor fatores de risco envolvidos na manifestação dessa patologia, como também investigar medidas para preveni-la.

Palavras Chave

Nefropatia Osmótica; Lesão Renal Aguda; iSGLT2; Insuficiência Cardíaca

Área

Insuficiência Cardíaca

Instituições

Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (PROCAPE) - Pernambuco - Brasil

Autores

Jaqueline Fonseca, Rafael Silvestre, Carlos Eduardo Montenegro, Esthefany Barbosa, Diogo Suassuna