32º Congresso Pernambucano de Cardiologia

Dados do Trabalho


Título

Cardiomiopatia dilatada induzida por bloqueio do ramo esquerdo – Quem veio antes? O ovo ou a galinha?

Introdução

A cardiomiopatia dilatada (CMD) é uma patologia qualificada pela dilatação do ventrículo esquerdo (VE) e consequente disfunção sistólica, sem motivos distinguíveis. Essa parece ter causas filo e ontogenéticas, apesar de sua etiologia ainda não ser bem estabelecida. Recentemente, o bloqueio do ramo esquerdo (BRE) tem sido indicado como fator diretamente associado a CMD, os quais, juntos, podem ser associados à dissincronia ventricular esquerda. No entanto, o BRE infrequentemente é considerado uma causa direta da CMD, e sua relação com disfunção ventricular permanece pouco compreendida. Este relato descreve um caso em que o BRE pode ser o principal fator etiológico da CMD.

Descrição do caso

Paciente do sexo feminino, 60 anos, assintomática, foi avaliada em 2003, sem comorbidades como hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares prévias. No momento da consulta, seu primeiro eletrocardiograma revelou BRE e ecocardiograma (ECO) mostrou VE com diâmetros normais, função sistólica preservada e movimento paradoxal do septo (MPS). A cinecoronariografia apresentou coronárias normais, sem identificação de causas estruturais para o BRE. A paciente permaneceu assintomática até 2022, quando começou a relatar cansaço aos grandes esforços. Novo ECO mostrou fração de ejeção do VE de 49%, com diâmetros normais do VE e MPS. A ressonância magnética cardíaca confirmou fração de ejeção do VE de 50%, com hipocinesia septal e apical e ausência de fibrose, isquemia ou edema. A angiotomografia coronariana também não revelou alterações. Em 2023, novo ECO indicou fração de ejeção do VE de 30%, com hipocinesia difusa e MPS, confirmando a evolução para CMD. O painel genético não revelou mutações significativas associadas à CMD.

Discussão/Conclusão

A inexistência de causas isquêmicas, inflamatórias, tóxicas ou genéticas reforça a possibilidade de o BRE ter desempenhado um papel crucial na etiologia da CMD neste caso. O BRE pode causar dissincronia ventricular esquerda, resultando em remodelação ventricular, incluindo fibrose e dilatação, levando à disfunção sistólica progressiva. A evolução lenta da função cardíaca e a ausência de outras causas tornam este caso um exemplo sugestivo de CMD induzida por BRE. Desse modo, a CMD induzida por BRE representa uma entidade clínica distinta, onde a dissincronia ventricular crônica aparenta ser o principal mecanismo fisiopatológico. A observação precoce dessa condição e o monitoramento frequente da função sistólica do VE em pacientes com BRE são essenciais para prevenir a progressão para insuficiência cardíaca. Estudos futuros podem explorar o papel da terapia de ressincronização cardíaca como intervenção potencial para reversão da disfunção ventricular em pacientes com BRE, mesmo que assintomáticos.

Palavras Chave

cardiomiopatia dilatada; Doenças Cardiovasculares; Disfunção Ventricular

Área

Cardiologia clínica

Autores

Liz Camila Labrada Quevedo, João Henrique Menezes de Albuquerque, Lívia Maria Gregório Vicente Leite, Marcos Vinícius Ferreira Fausto, Lucas Carvalho Aragão Albuquerque