Dados do Trabalho
Título
TROMBOSE ARTERIAL AGUDA COMO COMPLICAÇÃO DO BALÃO INTRA-AÓRTICO EM PACIENTE COM COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR PÓS-INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INFERIOR
Introdução
A comunicação interventricular (CIV) é uma complicação mecânica rara do infarto agudo do miocárdio (IAM), com incidência de 0,3% e elevada mortalidade. Dentre os principais fatores de risco relacionados à CIV podemos citar: idade avançada; sexo feminino; hipertensão arterial; pacientes não tabagistas; infarto anterior (inferior mais incomum). Esta complicação ocorre em geral de 3 a 7 dias após o IAM, caracterizando-se pelo comprometimento hemodinâmico súbito e surgimento de sopro cardíaco. O ecocardiograma (ECO) com doppler é o método de escolha para diagnóstico, enquanto a correção cirúrgica é o tratamento padrão. No entanto, a mortalidade permanece alta, mesmo após a intervenção cirúrgica, variando de 25% a 77%.
No manejo da CIV pós-IAM, o uso do balão intra-aórtico (BIA) é uma estratégia temporária para estabilização hemodinâmica, reduzindo a pós-carga e melhorando a perfusão coronariana enquanto se aguarda a correção cirúrgica. No entanto, é crucial avaliar os riscos associados ao BIA, incluindo a trombose arterial, sendo necessário uma abordagem multidisciplinar para otimizar o uso do BIA e minimizar os riscos de trombose em pacientes com CIV.
Descrição do caso
Homem, 51 anos, ex-tabagista e sem comorbidades prévias, deu entrada em emergência cardiológica referindo dor moderada em hemitórax esquerdo há 12 horas, sem irradiação. Relatou que episódio semelhante havia ocorrido 15 dias antes. Na admissão, relatou melhora da dor e queixa de dispnéia. Apresentava sudorese, estertores crepitantes e sopro sistólico (3+/6+) audível em foco mitral e borda esternal esquerda. O eletrocardiograma evidenciou taquicardia sinusal e supradesnivelamento do segmento ST em D2, D3 e aVF.
Foi realizado ECO transtorácico, evidenciando CIV muscular de 2,2 cm com shunt esquerda-direita, alteração da contratilidade segmentar e pressão sistólica de artéria pulmonar igual a 50 mmHg, sendo indicado cateterismo cardíaco que evidenciou Coronária Direita ocluída.
Durante internamento, apresentou hipotensão, sendo implantado BIA em artéria femoral direita, evoluindo com estabilidade hemodinâmica. A radiografia de tórax mostrou ausência de infiltrados pulmonares e boa posição do BIA. No entanto, quatro dias após implante, o paciente relatou dor progressiva no membro inferior direito (MID). Manobras clínicas de alívio foram tentadas, e o BIA foi removido, mas sem sucesso. Diagnosticou-se trombose arterial aguda proximal em MID, sendo submetido à tromboembolectomia com arterioplastia. No pós-operatório imediato evoluiu com parada cardiorrespiratória não responsiva às manobras de reanimação, constatando-se o óbito.
Discussão/Conclusão
Este caso ilustra a gravidade da CIV pós-IAM inferior, mesmo em um paciente sem fatores de risco tradicionais, que evoluiu para óbito. Reforça ainda que o BIA, embora útil, não é isento de riscos, podendo levar a complicações significativas. O caso destaca a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento imediato para tentar modificar a história natural desses pacientes.
Palavras Chave
Comunicação Interventricular; Infarto Miocárdico de Parede Inferior; Balão Intra-Aórtico
Área
Emergências Cardiovasculares e Intensivismo
Instituições
Hospital Miguel Arraes - Pernambuco - Brasil, PROCAPE - Pernambuco - Brasil
Autores
Ana Carolina de Godoy Araújo, Gabriela Brito Bezerra, Joana Vieira Cavalcanti, Fernanda Sarubbi Selva, Felipe Leite Vilaca Torres