Dados do Trabalho
Título
DESENVENDANDO UM ENIGMA GENÉTICO: HIPERTROFIA ASSIMÉTRICA EM UM RECEPTOR DE TRANSPLANTE DE CORAÇÃO LIGADO À SÍNDROME DE BIRT-HOGG-DUBÉ
Introdução e/ou Fundamento
O aumento da espessura da parede do ventrículo esquerdo (VE) não justificado por situações de sobrecarga é conhecido como cardiomiopatia hipertrófica. Esta condição é causada principalmente por variantes em genes sarcoméricos, embora 5-10% dos casos possam envolver outros fatores genéticos. O desenvolvimento de hipertrofia do VE tardiamente pós-transplante cardíaco não é incomum, com causas que incluem hipertensão induzida por inibidores de calcineurina, efeitos de imunossupressão e injúria imunológica. Já o aparecimento precoce merece a investigação de outras causas.
Descrição do Caso
Homem, 54 anos, com cardiomiopatia dilatada avançada, foi submetido a transplante cardíaco de um doador de 44 anos, o qual tinha histórico de hipertensão e tabagismo, mas nenhum histórico médico familiar conhecido. Antes do transplante, as avaliações incluíram um ecocardiograma (ECO) à beira-leito realizado no hospital de origem do doador. O laudo não indicou anormalidades estruturais. O procedimento de transplante foi concluído sem complicações e a recuperação do paciente, usual. Porém, o ECO pós-operatório revelou hipertrofia assimétrica do septo interventricular medindo 16 mm, com parede posterior de 13 mm e fração de ejeção do VE normal, confirmado pela ressonância cardíaca (Figura 1). A rejeição foi descartada após duas biópsias endomiocárdicas realizadas com oito dias de intervalo, que mostraram resultados de 1R e PAMR0. O receptor do coração não apresentou outras complicações. A análise genética do doador, através de célula esplênica, revelou uma mutação no gene da foliculina (FLCN), especificamente c.1285dupC:p. (His429Profs*27), associado à Síndrome de Birt-Hogg-Dubé.
Discussão e/ou Conclusão
DISCUSSÃO: Este relato destaca um caso atípico de hipertrofia assimétrica do VE imediatamente após o transplante, ligado a uma variante genética específica. A Síndrome de Birt-Hogg-Dubé normalmente não está associada à hipertrofia assimétrica, contudo foi realizada triagem da família do doador, que revelou uma hipertrofia semelhante e a mesma variante genética no pai do doador. CONCLUSÃO: Embora não seja rotineira, a avaliação genética dos tecidos dos doadores pode ser crucial para a compreensão de alterações não relacionadas ao procedimento de transplante e reconhecimento de portadores da variantes patogênicas. Ressalta-se o potencial subdiagnóstico de doenças genéticas e as vantagens significativas de sua identificação, que pode beneficiar não só pacientes, mas também seus familiares.
Área
Relatos de Casos
Autores
SILAS RAMOS FURQUIM, Lucas Vieira Lacerda Pires, Nara Alves Buriti, Mariana Lombardi Peres de Carvalho, Emanuelle Leonilia Marques, Bianca Linnenkamp, Fernanda Almeida Andrade, Luciana Sacilotto, Mônica Samuel Ávila, Sandrigo Mangini, Luis Fernando Bernal da Costa Seguro, Fabiana Goulart Marcondes-Braga, Fernando Bacal, José Eduardo Krieger