Dados do Trabalho
Título
Envolvimento do Sistema Nervoso Central na Reativação da Doença de Chagas: Um relato de caso em receptor de transplante cardíaco
Introdução e/ou Fundamento
A reativação da doença de Chagas em receptores de transplante de órgãos, desafiada pela imunossupressão, transforma significativamente a epidemiologia e as manifestações da infecção pelo Trypanosoma cruzi. Considerada a terceira maior causa de transplantes cardíacos no Brasil, a doença pode reativar de forma severa, incluindo neurochagas, um evento raro e grave com envolvimento do SNC (sistema nervoso central). Este relato descreve um paciente de 64 anos, transplantado cardíaco, com reativação de Chagas no SNC (neurochagas).
Descrição do Caso
Homem de 64 anos, submetido a transplante cardíaco em 2021 devido a cardiomiopatia chagásica. Sob imunossupressão com tacrolimus , micofenolato de sódio e prednisona, manteve função enxerto estável (FE 64%). Em 8 de janeiro de 2024, apresentou-se com confusão mental e hemiparesia direita, desenvolvidos 15 dias antes, sem febre ou dor torácica. Avaliação física indicou afasia global, disartria, ataxia (NIHSS 8). Ecocardiograma e níveis séricos de tacrolimus estavam dentro da normalidade. Diante de sintomas neurológicos agudos, uma ressonância magnética (figura 1) evidenciou lesões cerebrais com edema perilesional extenso e realce pós-contraste, levantando suspeita de reativação da doença de Chagas com envolvimento do SNC (neurochagas). Uma punção lombar confirmou a hipótese ao identificar tripomastigotas no líquido cefalorraquidiano (figura2). Iniciou-se tratamento com benznidazol, ajustando o regime imunossupressor para azatioprina. O paciente apresentou rápida melhora, com recuperação neurológica completa em 11 dias (NIHSS 0). Recebeu alta em 15 dias, seguindo plano de manutenção do tratamento com benznidazol por 60 dias. Acompanhamento ambulatorial mostrou ausência de sintomas neurológicos, e TC de seguimento indicou redução significativa do edema e das lesões cerebrais (figura 3).
Discussão e/ou Conclusão
A reativação da doença de Chagas em transplantados cardíacos, desafiada pela imunossupressão, eleva riscos de manifestações graves como neurochagas. Esta condição, manifesta-se com sintomas neurológicos variados, requer diagnóstico diferencial amplo. A ressonância magnética é vital na caracterização das lesões, enquanto a análise do líquido cefalorraquidiano confirma neurochagas, revelando a presença de tripomastigotas, como no caso aqui descrito . O manejo envolve medicamentos antiparasitários, como o benznidazol, visando a erradicação do parasita e a inibição da progressão da doença. Ajustes no regime imunossupressor do paciente, como a transição do agente antiproliferativo micofenolato para azatioprina, também podem ser justificados, uma vez que o uso de micofenolato parece estar associado a uma maior incidência de reativação da Chagas. Concluindo, o diagnóstico precoce e tratamento adequado do neurochagas são essenciais para prevenir complicações graves
Área
Relatos de Casos
Autores
DANIELLE LOUVET GUAZZELLI, Vanessa Simione, Fabiana Goulart Marcondes-Braga, Mônica Samuel Ávila, Iascara Wozniak de Campos, Luis Fernando Bernal da Costa Seguro, Sandrigo Mangini, Tânia Mara Varejão Strabelli, Fernando Bacal