Dados do Trabalho
Título
Morte súbita abortada como primeira apresentação de sarcoidose cardíaca: desafio diagnóstico
Introdução e/ou Fundamento
A sarcoidose cardíaca (SC) é uma doença inflamatória rara de apresentação variada, geralmente com envolvimento extracardíaco. Ela pode ter evolução grave, sendo fundamental seu diagnóstico e tratamento precoces.
Descrição do Caso
Homem de 72 anos, portador de hipertensão, fibrilação atrial e ex-tabagista, fazia uso de amiodarona e rivaroxabana. Em 2014, durante exames de rotina, foi diagnosticada massa mediastinal, a qual apresentou resolução espontânea em 2015 e reapareceu em 2016. O paciente seguia assintomático. Em 2022 foi internado eletivamente para biópsia da massa, porém no início do procedimento, o paciente evoluiu com bradicardia instável seguida de parada cardiorrespiratória (PCR) em ritmo de atividade elétrica sem pulso. Após reanimação e retorno da circulação espontânea (RCE) foi evidenciado bloqueio atrioventricular total (BAVT). Foi implantado marca-passo (MP) provisório e encaminhado para hospital cardiológico. Em unidade de terapia intensiva foram descartados distúrbios hidroeletrolíticos, alterações estruturais e elétricas do coração, atribuindo-se a PCR à anestesia do procedimento. Foi desligado o MP provisório e o paciente apresentou nova bradicardia com PCR e RCE após 3 minutos. Realizado implante de MP definitivo e ecocardiograma transtorácico evidenciou remodelamento concêntrico do ventrículo esquerdo (VE), hipocinesia leve difusa, fração de ejeção de VE de 49%, átrios com aumento importante, insuficiência aórtica e tricúspide leves e derrame pericárdico leve. A sorologia foi negativa para a doença de Chagas e o holter-24h não apresentou alterações significativas. O paciente evoluiu bem e recebeu alta para investigação ambulatorial. Em 2023, durante o preparo para tomografia de tórax, o paciente apresentou taquicardia ventricular (TV) instável, precisando de cardioversão elétrica. No segundo internamento, o paciente se manteve estável. Para investigação etiológica, foi realizada cineangiocoronariografia, sem alterações. Com a hipótese de SC, foi feita ressonância nuclear magnética cardíaca com achado de fibrose focal miocárdica de padrão não isquêmico. Após realização de PET-scan, o diagnóstico de SC foi confirmado. Paciente seguiu estável com colocação de cardiodesfibrilador implantável e uso de corticoide.
Discussão e/ou Conclusão
Pacientes com SC sofrem com o subdiagnóstico. No relato, apesar das red flags para SC (morte súbita abortada, BAVT, TV, fibrose de padrão não isquêmico), seu diagnóstico só ocorreu quase dois anos após sua primeira arritmia. Conhecer os sinais de alarme da SC interfere no melhor manejo dos pacientes, os quais são potencialmente graves.
Área
Relatos de Casos
Autores
Enzo Macêdo Nunes, Henrique Macedo Claudino, Marcela Vasconcelos Montenegro , Clara De Andrade Pontual Peres, Ana Carolina Dias Almeida, Carolina Jerônimo Magalhães, Gabriela Cotias Filizola, Rodrigo Rufino Pereira Silva, Rafael Silvestre Vieira Da Silva, Fernando Rabelo De Oliveira Cavalcanti Filho, Giulia Antoni Ferreira Rocha, Victória Bedor Jardim Quirino, Júlia Feitosa Brito Dos Santos, Isly Maria Lucena De Barros, Carlos Eduardo Montenegro Lucena Montenegro