Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca

Dados do Trabalho


Título

Doença genética como causa de miocardiopatia dilatada e miopatia esquelética em paciente candidato a transplante cardíaco

Introdução e/ou Fundamento

A miocardiopatia dilatada (MCD) é uma das principais causas de transplante no mundo. Tem como principais etiologias miocardite, alcoólica, toxicidade por drogas ou distúrbios endócrinos, sendo a etiologia genética presente em 35% dos casos.

Descrição do Caso

Paciente, sexo masculino, 35 anos, foi admitido em hospital da cidade de origem com sinais de congestão sistêmica e pulmonar e de baixo débito cardíaco, sendo então encaminhado para a nossa instituição para avaliação de transplante cardíaco por dependência de inotrópico. Apresentava de antecedentes patológicos insuficiência cardíaca (IC) de fração de ejeção (FE) reduzida de diagnóstico recente e presença de tremores em membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII). Por ser MCD sem etiologia definida, foi solicitada ressonância magnética (RM) do coração que evidenciou FEVE de 17% com realce tardio de padrão não-isquêmico “ring-like” no miocárdio, que pode estar relacionado à sequela de miocardite ou cardiomiopatia genética. Este achado de imagem associado aos sintomas neuromusculares do paciente (tremores, paresia de musculatura proximal e disfagia moderada, com ocorrência de pneumonia aspirativa), levantou-se a hipótese de doença miocárdica genética com comprometimento neuromuscular e foi solicitado painel genético completo (exoma). Foram identificadas mutação patogênica do gene filamina C (FLNC) e variante de significado incerto do gene ADCY5, que estão relacionados a miocardiopatia dilatada e miopatia periférica de etiologia genética. Como o paciente não apresentava contraindicações do ponto de vista de prognóstico neuromuscular, foi listado e submetido ao transplante cardíaco em agosto de 2023 e está em seguimento dos cuidados pós-transplante, mantendo os tremores, porém com melhora parcial da instabilidade de marcha, em acompanhamento com equipe de reabilitação.

Discussão e/ou Conclusão

A mutação do gene da FLNC  está presente em 1 a 5% dos casos de MCD, mas inicialmente foi associada apenas a miopatias fibrilares (tanto proximal quanto distal). Hoje sabe-se que acomete ventrículo direito e/ou ventrículo esquerdo, com arritmias e insuficiência cardíaca. O processo está associado à degeneração das fibrilas musculares, agregação de proteínas e presença de vacúolos com formação de fibrose. O padrão de fibrose tipo “ring-like” na RNM de coração está associado a várias doenças genéticas mas com predomínio das mutações na desmoplaquina e filamina C. Portanto devemos considerar a realização de teste genético nos pacientes jovens, com sintomas musculares concomitantes e arritmias, mesmo sem história familiar positiva. Importante para prognóstico e aconselhamento familiar.  

Área

Relatos de Casos

Autores

Ali Ibrahim Yassine, Bernardo May Gomel, Lara do Norte Garcia, Michele Amorim Heringer, Jose Leudo Xavier Junior, Gabriela Campos Cardoso de Lima, Sandrigo Mangini, Fernando Bacal