Dados do Trabalho
Título
Disfunção mecânica de dispositivo de assistência ventricular: relato de caso de fenômeno short-to-shield
Introdução e/ou Fundamento
A maioria das causas de disfunção mecânica dos dispositivos de assistência ventricular (DAV) está relacionada a baterias, controladores e cabos periféricos. O fenômeno short-to-shield (STS) é um tipo específico de disfunção do condutor de impulsão (driveline) observado em até 6% dos pacientes em suporte com HeartMate II® (HM II). Ocorre devido ao dano no isolamento elétrico resultando em parada da bomba ao se conectar a um Power Module (PM) com aterramento. A identificação precoce e manejo do STS são fundamentais para garantir o funcionamento adequado do DAV.
Descrição do Caso
Homem, 59 anos, com insuficiência cardíaca (IC) avançada de etiologia isquêmica e cirurgia de revascularização miocárdica prévia recebeu implante de HM II e valvuloplastia tricúspide em novembro/2017 por status INTERMACS 2 persistente e hipertensão pulmonar proibitiva para transplante. Como complicações clínicas relacionadas ao HM II, apresentou acidente cerebrovascular isquêmico menor e infecções recorrentes de óstio do driveline por Staphylococcus aureus tratado cronicamente com antibiótico oral. Em julho/2023, durante a análise do arquivo de registros, foi detectado episódio recente de pump-stop com 3 segundos de duração (Figura 1A). Ao ser questionado, o paciente relatou estar assintomático, mas ter acidentalmente dobrado o driveline ao sentar-se. O pump-stop aconteceu enquanto encontrava-se conectado ao Mobile Power Unit (MPU). Foram realizadas inspeção e imagens radiográficas do driveline e do controlador, não tendo sido identificado qualquer comprometimento evidente (Figura 1B). Foi realizado diagnóstico de STS indicando-se troca de MPU para PM com cabo de conexão sem aterramento. Não foram observados novos eventos de pump-stop ou outras disfunções mecânicas até maio/2024.
Discussão e/ou Conclusão
O fenômeno STS ocorre quando há dano no isolamento da driveline, com consequente falha de aterramento elétrico. Os principais fatores de risco conhecidos são infecções recorrentes e trauma da driveline.Há três opções de tratamento para STS: 1) reparo externo do cabo do driveline, 2) cirurgia para troca de dispositivo, 3) uso de cabo sem aterramento ao usar PM. Neste caso, foi descartado comprometimento do driveline através de imagens. Considerando as dificuldades de troca de bomba no Brasil e a dupla esternotomia prévia, foi indicado o uso de cabo sem aterramento com o PM. É importante reconhecermos rapidamente episódios de STS para evitar disfunções mecânicas graves do HM II.
Área
Relatos de Casos
Autores
Rocío Belén Correa, Laura Hastenteufel, Dayanna Lemos, FERNANDO LUIS SCOLARI, LEONARDO BRIDI, Letícia Orlandin, Nadine Clausell, Livia Goldraich