1º Encontro de Departamentos da Cardiologia

Dados do Trabalho


Título

RELATO DE CASO - INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO DEVIDO USO DE ANABOLIZANTES EM PACIENTE ALÉRGICO AO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS)

Resumo

RESUMO: O presente relato de caso descreve paciente do sexo masculino, com 36 anos de idade, sem histórico prévio de doença cardiovascular, que apresentou um infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) associado ao uso de anabolizantes em 05/06/2023. Além disso, destaca-se a abordagem terapêutica individualizada e específica no contexto da alergia ao ácido acetilsalicílico (AAS), previamente relatada por quadro anafilático ABSTRACT: The present case report describes a 36-year-old male patient with no prior history of cardiovascular disease who experienced an acute myocardial infarction (STEMI) associated with the use of anabolic steroids on 05/06/2023. Additionally, it emphasizes the individualized and specific therapeutic approach in the context of acetylsalicylic acid (ASA) allergy, previously reported as an anaphylactic reaction. INTRODUÇÃO: O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma das principais causas de morbimortalidade no mundo, principalmente em faixas etárias mais avançadas, sendo nestes, o principal mecanismo etiopatogênico: a ruptura de lesão aterosclerótica, levando à redução do fluxo sanguíneo e consequente formação de trombos, resultando em isquemia miocárdica. Contudo, em pacientes jovens, sem fatores de risco cardiovascular prévios como dislipidemia, história familiar, obesidade, diabetes mellitus e tabagismo (1), deve-se investigar o abuso de drogas simpatomiméticas, além também do uso suprafisiológico de esteróides androgênicos anabólicos - como o presente caso (2). Devido aos seus efeitos anabólicos - como um expressivo aumento de massa muscular e redução de gordura corporal, dentre outros - os esteróides androgênicos anabolizantes (EAAs) são utilizados por atletas para melhorar o desempenho físico, mas seu uso tem aumentado também entre jovens praticantes recreacionais de atividade física, com o objetivo de desenvolver-se fisicamente. Os usuários de EAAs fazem uso de doses suprafisiológicas, que podem levar ao surgimento de efeitos colaterais graves, como os danos cardiovasculares (3), o que faz desse uso indiscriminado e abusivo, um problema significativo de saúde pública. As doses suprafisiológicas de EAAs, sejam elas ligadas ao treinamento físico, quanto ao uso em pacientes sedentários, têm uma íntima relação com uma susceptibilidade de isquemia miocárdica (4) OBJETIVOS: Informar os grandes riscos do uso de anabolizantes em paciente jovem, levando ao infarto agudo do miocárdio e, neste caso, sendo alérgico ao ácido acetilsalicílico.  RELATO DE CASO: Paciente masculino, 36 anos, caucasiano, nega sedentarismo ou outros fatores de risco cardiovascular e sem antecedentes patológicos, alérgico ao ácido acetilsalicílico. Relata uso contínuo de Decadurabolin 100 mg semanal, Durateston 250 mg semanal. Paciente apresenta queixa de dor torácica intensa em aperto, com irradiação dorsal e iniciada há 30 minutos, sendo atendido pelo serviço de emergência. Após admissão, encontrava-se em regular estado geral, hipertenso, taquipneico, fácies de dor. O eletrocardiograma (ECG) de entrada demonstrou ritmo sinusal, 78 bpm, com supradesnivelamento de segmento ST em parede anterior (Figura 1), classe I de Killip Kimball. A decisão sobre o tratamento de reperfusão foi baseada na disponibilidade de recursos e no tempo decorrido desde o início dos sintomas. O paciente foi submetido a uma avaliação rápida para determinar a melhor abordagem terapêutica. Devido à ausência de centro hemodinâmico na cidade e de transporte indisponível no momento da ocorrência, foi optado por realizar trombólise com Actilyse na dose de 100 mg endovenosa total, realizada da seguinte maneira: 15 mg em bolus em 2 minutos, 50 mg em 30 minutos e por fim 35 mg em 60 minutos com tempo de início da terapia estimado em 5 minutos. Para isso, levou-se também em consideração a ausência de contraindicações absolutas e o tempo de sintomas menor que 3 horas (5)           Evolução após trombólise: Paciente apresenta critérios de reperfusão coronariana, como desaparecimento da dor torácica, com arritmias ventriculares frequentes (extrassístoles ventriculares isoladas e bigeminadas) e redução do supradesnivelamento do segmento ST em mais de 50% do eletrocardiograma inicial.  O paciente recebeu inicialmente nitroglicerina para alívio dos sintomas e controle pressórico, Clopidogrel 300 mg via oral em dose única, seguido de profilaxia com Clexane 30 mg endovenoso, Rivotril 10 gotas, devido a quadro ansioso. Não houve necessidade de suporte de oxigênio. Tabela 1 - Evolução dos exames laboratoriais Exames Laboratoriais 05/07/2023 19/09/2023 19/10/2023 Hemoglobina 17,9 18 16,7 Hematócrito 51,4 50,1 45,7 Leucócitos 27.700 5820 5080 Plaquetas, teste de agregação 283.000 326.000 171.000 Ureia 33 - - Creatinina 1,3 1,62 1,09 Sódio 134 142 - Potássio 5,6 4,9 5,3 Cálcio 9,4 - - Magnésio 2,5 - - Colesterol (HDL) - 37 51 Colesterol (LDL) - ct 150, LDL 92 ct 104, LDL 27 Triglicerídeos -  102 76 Hemoglobina glicada (A1 total) -  5,0 4,8 Glicose -  97 80 Ácido úrico - 4,6 3,6 Hormônio tireoestimulante (TSH) - 2,96 - Transaminase glutâmica oxalacética (TGO) 63 28 78 Transaminase glutâmica pirúvica (TGP) 48 73 129 Gama-glutamil transferase (GGT) 15 - - Peptídeo natriurético BNP/ PROBNP - 428 86 Microalbuminúria - ui nl - RNI 1,09 - - TTPa 36 - - Troponina 0,19 - - D-Dímero 55,72 - - Gasometria arterial FiO2: 37% pH: 7,49 PCO2: 35 PO2 71 Lactato: 1,5 HCO3: 26,7 P/F: 192 - -        Realizou Ecocardiograma transtorácico em 06/07/2023, com aorta 36, átrio esquerdo 37, DDVE 48, DSVE 39, PP e Septo 10, FEVE 40 %, Ventrículo esquerdo com acinesia septal anterior, septal e anterior, Função diastólica normal. Realizado cateterismo cardíaco em 06/07/2023, com 24 horas após trombólise, com lesão aterosclerótica em Artéria Descendente Anterior proximal com 30%, e fluxo lento distal; Artérias Circunflexa e Coronária Direita ectásicas com irregularidades discretas; ventriculografia com hipocinesia ântero-apical ++. Paciente evoluiu bem, sem intercorrências durante internação, fazendo seguimento ambulatorial, em uso de: Rivaroxabana 20 mg/dia, Clopidogrel 75 mg/dia, Rosuvastatina 20 mg/dia e Ezetimiba 10 mg /dia, Inspra 25 mg/dia, Entresto 50 mg 12/12 h e Forxiga 10 mg/dia, orientado retirada abrupta da medicação anabolizante e seguimento com endocrinologista.  Considerando a contraindicação do uso de ácido acetilsalicílico devido à alergia documentada, manteve-se inicialmente a monoterapia com Clopidogrel (6), e optando posteriormente por não realizar a dessensibilização para uma dupla antiagregação plaquetária (DAPT) (7). A decisão de evitar introduzir outros agentes antiplaquetários foi tomada após uma avaliação dos riscos e benefícios, levando em consideração o potencial risco alérgico do paciente, como quadro anafilático constatado previamente (8). Com isso, a abordagem escolhida foi realizar anticoagulação de maneira isolada; no ambiente hospitalar, paciente manteve-se em uso de Enoxaparina 80mg 12/12h, em via subcutânea, como estratégia para prevenir eventos trombóticos adicionais, enquanto se busca minimizar o risco de reações alérgicas indesejadas. Após alta hospitalar, foi substituída pela Rivaroxabana 20 mg/dia DISCUSSÃO: Uma das principais motivações em pacientes jovens para o uso de esteroides anabolizantes é a rapidez com que se atinge a definição do corpo através do aumento de massa e definição muscular, permitindo também ultrapassar os limites fisiológicos na procura de um corpo ideal (9). Resultado de estudos prévios destacam certo desconhecimento de possíveis efeitos adversos, demonstrando a necessidade de informar e conscientizar, principalmente os jovens, essa visão crítica e uma desconstrução de ideias acerca do corpo padrão, veiculando informações conjuntas sobre riscos cardiovasculares e à saúde em geral ao consumo de anabolizantes Um importante ponto da abordagem terapêutica do presente caso, e que adiciona complexidade ao manejo clínico, é a alergia ao ácido acetilsalicílico, relatada através de quadro anafilático prévio, e não se recomendando, portanto, a dessensibilização prévia. Com isso, o tratamento desse paciente envolveu uma abordagem multidisciplinar, tendo o manejo do IAM sem o uso de ácido acetilsalicílico incluindo antiplaquetários alternativos, como Clopidogrel, associada ao uso de Rivaroxabana. Em uma breve revisão de literatura, estudos com pacientes com síndrome coronariana aguda associada a fibrilação atrial, demonstraram que a terapêutica usando Rivaroxabana em conjunto com o Clopidogrel após intervenções percutâneas demonstraram eficácia e segurança, com uma potencial redução da taxa de eventos hemorrágicos (10). CONCLUSÃO: O caso relatado e publicações levantadas trazem à luz importância de informar, sublinhando os riscos cardiovasculares envolvidos potenciais do uso indiscriminado de esteroide anabolizantes em pacientes jovens, evidenciando a associação direta com eventos cardiovasculares graves, como o infarto agudo do miocárdio. Além também de abordar a discussão da terapêutica acerca de um paciente pós-IAM, alérgico à ácido acetilsalicílico, utilizando-se o Clopidogrel em conjunto com Rivaroxabana

Palavras Chave

infarto agudo do miocárdio; Esteroides Anabolizante; Alergia

Área

DOENÇA CORONÁRIA AGUDA E CRÔNICA / TROMBÓLISE

Categoria

Iniciação Científica

Autores

ISABELA GIMENES PANCINI, FÁBIO MARETO GUIDETTI