41º Congresso SOCERJ

Dados do Trabalho


Título

Abordagem de Estenose Mitral Grave em Gestante

Introdução e/ou Fundamento

No Brasil, a doença reumática é a causa mais frequente de cardiopatia durante a gravidez, com incidência estimada em 50%. O aumento do débito cardíaco durante a gestação está associado a piora funcional nas lesões estenóticas, agravando os sintomas. Descreveremos a seguir a abordagem de um caso de gestante portadora de estenose mitral (EM) grave.

Relato do Caso (Descrição Objetiva do Caso)

Paciente de 30 anos, sem comorbidades conhecidas, gestante de 24 semanas, apresentando quadro de tosse seca e dispneia há 7 dias. Buscou atendimento em maternidade, evoluindo com insuficiência respiratória aguda com necessidade de intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Transferida para hospital terciário, onde foi realizado ecocardiograma, que evidenciou EM grave de provável etiologia reumática com gradiente átrio esquerdo/ventrículo esquerdo (VE) máximo 26 e médio de 15 mmHg, área valvar 1,1 cm², escore de Wilkins-Block (EWB) 7, função sistólica do VE normal, sem sinais de hipertensão arterial pulmonar. Iniciado tratamento com beta-bloqueador e diurético, com melhora clínica parcial, sendo extubada, porém, mantendo classe funcional New York Heart Association (CF NYHA) III. Optado por tratamento percutâneo da EM com valvoplastia por cateter balão (VCB) após uso de betametasona para amadurecimento pulmonar fetal. Durante o procedimento, complicou com insuficiência mitral grave, sendo optado por realização de cesariana seguida de abordagem cirúrgica de urgência. Submetida à troca valvar, sem intercorrências. Neonato nascido de 27 semanas inicialmente grave, mas com evolução favorável após internação prolongada em terapia intensiva. Ambos receberam alta hospitalar.

Discussão

A paciente em questão, por apresentar EM grave sintomática (CF ≥ II), tinha indicação de abordagem valvar na pré-concepção. Como o diagnóstico foi feito apenas no 2º trimestre e ela apresentou refratariedade ao tratamento clínico, mantendo-se em CF NYHA III apesar de terapia otimizada, a intervenção se impôs. Os resultados da VCB são superiores aos da cirurgia, com menor mortalidade e melhora clínica em cerca de 80% dos casos em gestantes. A insuficiência mitral grave é uma complicação rara (1-9,5%), sendo mais comum quanto maior for o EWB. O mecanismo é por ruptura dos folhetos ou estiramento excessivo da comissura mitral e o tratamento é correção cirúrgica. A cirurgia cardíaca durante a gravidez deve ser indicada nas condições clínicas sem outras opções terapêuticas para a sobrevida materna, como no caso descrito.

Palavras Chave

Estenose mitral; Gestação; Valvoplastia por cateter balão

Área

Valvopatias

Categoria

Médico Residente / Especializando

Instituições

HUPE/UERJ - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Fábio Rabaça dos Santos, Felipe Cerqueira Matheus, Pedro Pimenta de Mello Spineti, Manoela Silva de Oliveira, Tamires Borges Gonçalves