Dados do Trabalho
Título
A zona cinzenta do coração de atleta na era pós-COVID: um desafio diagnóstico
Introdução e/ou Fundamento
As adaptações cardíacas ao treinamento físico exibem diversas peculiaridades que podem simular fenótipos patogênicos. Desde a década de 80 a cardiomiopatia arritmogênica de ventrículo direito (VD) representa o principal diagnóstico diferencial das adaptações de VD secundárias ao treinamento de endurance em esportistas sintomáticos. Entretanto, no cenário atual, outros possíveis diagnósticos diferenciais devem ser pesquisados em esportistas sintomáticos com alterações morfológicas de VD.
Relato do Caso (Descrição Objetiva do Caso)
Paciente de 30 anos, praticante de musculação e corrida, usuário de esteróides anabolizantes há mais de 10 anos, procurou atendimento médico por cansaço durante treinos e precordialgia atípica após infecção por COVID-19. Exame físico e história familiar: nada digno de nota. ECG com BAV 1º grau, repolarização precoce e inversão de onda T em parede inferior. Troponina negativa. Ressonância cardíaca (RNM) com hipocinesia difusa biventricular, aumento do padrão de trabeculações e focos de realce tardio em padrão não-isquêmico em VD. Realce tardio e degeneração gordurosa na parede lateral médio-apical e focos de realce tardio na parede septal médio-apical e inferior basal do VE com padrão não isquêmico. Após tratamento clínico para miocardite por COVID por 3 meses, repetiu-se a RNM que manteve os achados anteriores, com maior evidência do realce tardio na parede inferior basal do VE. Teste genético evidenciou variante provavelmente patogênica do gene SYNE1 e variante de significado clínico indeterminado (VUS) do gene PKP-2. Após 6 meses, nova RNM evidenciou correção da função sistólica biventricular, com manutenção da dilatação de VD e estabilidade das áreas de realce tardio e degeneração gordurosa. Paciente segue em acompanhamento clínico há 1 ano, assintomático.
Discussão
O gene SYNE1 está relacionado à artrogripose múltipla congênita e à ataxia cerebelar, mas o paciente não exibe qualquer alteração clínica relacionada a estas doenças. Apesar do gene PKP-2 ter sido definido como VUS, o uso de testosterona pode ter sido um determinante epigenético para sua expressão fenotípica de cardiomiopatia arritmogênica. Neste caso, o paciente com cardiomiopatia arritmogênica apresentou disfunção biventricular pela miocardite por COVID. O diagnóstico etiológico de disfunção biventricular em esportistas tornou-se ainda mais desafiador no cenário atual onde as epidemias de COVID e de abuso de esteróides anabolizantes são realidades.
Palavras Chave
Cardiomegalia Induzida por Exercícios; Cardiomiopatias; Miocardite
Área
Ergometria, Reabilitação Cardíaca e Cardiologia Desportiva
Categoria
Médico Residente / Especializando
Instituições
Hospital Naval Marcílio Dias' - Rio de Janeiro - Brasil, Ipanema Health Club - Rio de Janeiro - Brasil, Universidade de Iguaçu - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
Daniela Blanco Mecking, Jaime Lobo Figueiredo, Renata R. T. Castro